sexta-feira, 13 de março de 2009

Os primeiros registros da técnica da taipa de pilão no Brasil se dão na época do Brasil Colônia. Os relatos dos viajantes estrangeiros em terras brasileiras, segundo Rubens Borba de Morais[1], não apresentam riqueza de detalhes. Porém, com as expedições de exploração científica do Brasil, na primeira metade do século XIX, houve um grande número de viajantes que descreveram, em seus diários, o que aqui nestas terras encontraram. Pouco se sabia da riqueza da fauna e flora brasileira. Portugal adotou uma política para defender o seu comércio, através da preservação das informações referentes à colônia, evitando assim a cobiça alheia sobre as terras recém “encontradas”.

 Se por um lado as informações aos viajantes estrangeiros eram restritas pela coroa Portuguesa, por outro os portugueses não mantinham interesse em estudar e revelar os segredos, das riquezas naturais, das terras “encontradas”, que serviam apenas para o fornecimento de riquezas para a metrópole, como ouro e outras mercadorias (Morais, 1972).

Porém foram significativos os resultados dos trabalhos cartográficos, na delimitação das fronteiras, realizados em 1750, por força de um tratado (Tratado de Madri) onde foram gerados documentos importantes como diários, mapas e plantas produzidas por engenheiros e toda uma equipe de especialistas, que dividiam terras de domínio de Portugal, das de domínio da Espanha.

Quanto à técnica da taipa de pilão, inserida no Brasil desde os primeiros tempos da colonização, sua primeira aplicação em terras tupiniquins foi no Rio de Janeiro quando da passagem da frota de Martim Afonso de Souza [2] em abril de 1531 (Schmidt, 1946).

“Como fomos dentro – diz em seu diário Pero Lopes de Souza[3] - mandou o Capitam fazer huma casa forte, com cerca por derredor, e mandou sahir a gente em terra, e por em ordem a ferraria para fazermos cousas de que tínhamos necessidade.”

Em 1549, em São Vicente, Manoel da Nóbrega pedia para a metrópole que lhe mandassem “officiais que façam taipa e carpinteiros”, numa referência a taipa de pilão. Em 1554, José de Anchieta faz construir, em taipa de pilão, o Colégio dos Jesuítas da Companhia de Jesus, onde ao redor iniciou-se a construção das primeiras casas de taipa que dariam origem ao povoado de São Paulo de Piratininga[4].

O Pátio do Colégio um marco da origem da cidade de São Paulo, localizado no alto de uma colina, hoje tomado por edifícios do centro da cidade, entre os rios Tamanduateí[5] e Anhangabaú[6], foi escolhido para catequizar os índios. A técnica da Taipa de Pilão influenciou toda a arquitetura do centro da cidade nesta época.

Um jovem botânico francês Auguste de Saint-Hilaire (1779 – 1853), em missão ao Brasil, foi o viajante estrangeiro que forneceu o maior número de informações sobre a natureza dos edifícios das várias vilas e cidades da província paulista, quando da sua viagem por terras brasileira em 1816, desembarcou na cidade do Rio de Janeiro, numa exploração do país pelos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Cisplatina e as chamadas Missões do Paraguai (Schmidt, 1946).


[1] Rubens Borba de Moraes (1899-1986) bibliógrafo - foi diretor da Biblioteca Municipal de São Paulo (hoje Mário de Andrade, de quem foi amigo de infância) e da Biblioteca Nacional, organizador da Semana de Arte Moderna de 22.

[2] Martim Afonso de Souza comandou a expedição que partiu de Lisboa, em dezembro de 1.530, uma expedição composta por cinco navios, com uma tripulação de aproximadamente 400 pessoas. Coube a essa expedição fundar a primeira vila do Brasil, a vila de São Vicente, em 22 de janeiro de 1.532, além de outros núcleos de povoamento como Santo André da Borba do Campo e Santo Amaro.

[3] Pero Lopes de Souza, irmão de Martim Afonso de Souza, foi incumbido de fazer o diário de toda a expedição.

[4] Piratininga, significa "peixe à secar". Do tupi pira: peixe; tininga: seco. O topônimo teria referência aos peixes que morriam à margem do rio Anhangabaú, depois que este transbordava pelas cheias, e findavam por secar expostos ao Sol.

[5] Tamanduateí, em tupi, quer dizer: rio de muitas voltas.

[6] Anhangabahy que no tupi é o mesmo que anhangá-y, rio ou água do mau espírito.


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